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O armazenamento da memória explicada pela Neurociência

O armazenamento da memória é um dos temas centrais da neurociência, e entender como o cérebro grava experiências — especialmente as traumáticas — ajuda a compreender por que o corpo e a mente reagem como se o passado ainda estivesse acontecendo.


A memória é uma das funções mais complexas e fascinantes do cérebro humano.Ela não é apenas um “arquivo de lembranças”, mas um processo biológico dinâmico, no qual redes de neurônios se ativam, se conectam e se modificam conforme a experiência vivida.

Do ponto de vista das neurociências, toda lembrança é uma mudança física no cérebro. Cada evento, som, emoção ou trauma cria novas conexões sinápticas, que podem ser reforçadas, transformadas ou enfraquecidas ao longo da vida.


1. Como o cérebro armazena uma lembrança


Quando vivemos algo significativo, várias áreas cerebrais trabalham em conjunto:


  1. O hipocampo — organiza e codifica a experiência, transformando o que vivemos em uma memória de longo prazo.

  2. A amígdala — dá o “tom emocional” à lembrança; quanto mais emoção, mais forte a gravação.

  3. O córtex pré-frontal — contextualiza e integra a lembrança à história pessoal (“isso aconteceu comigo, naquela época”).

  4. O córtex sensorial e motor — registra os detalhes físicos (sons, cheiros, sensações corporais).


Essas áreas se comunicam por impulsos elétricos e descargas químicas, produzindo uma rede sináptica única para cada experiência.Assim, lembrar é reativar o mesmo padrão neural que foi criado durante o evento original.


2. A memória emocional: quando o corpo também grava


As experiências marcadas por forte emoção — medo, dor, humilhação, perda ou amor intenso — ativam profundamente o sistema límbico. Nesses momentos, a amígdala libera noradrenalina e cortisol, sinalizando ao cérebro que “aquilo é importante e deve ser guardado”.


O corpo, ao mesmo tempo, entra em modo de defesa: acelera o coração, muda a respiração, contrai músculos e prepara o organismo para reagir. Essas reações são registradas junto com a lembrança — e, por isso, o corpo “lembra” da emoção mesmo quando a mente tenta esquecer.


É assim que o trauma se torna corporal: ele é uma memória que não conseguiu se transformar em passado.

3. O que acontece no trauma


Em situações de trauma intenso, o hipocampo falha em organizar a memória. A amígdala, tomada pelo medo, domina o processo e impede o cérebro de integrar a experiência de forma coerente.


O resultado é uma memória fragmentada:


  • A emoção (pavor, culpa, dor) fica registrada na amígdala;

  • As sensações corporais (tensão, frio, taquicardia) ficam impressas no tronco cerebral e no córtex somatossensorial;

  • As imagens e sons ficam dispersos no córtex visual e auditivo, sem narrativa.


Essas lembranças não passam pelo processamento normal — e, portanto, não são reconhecidas como algo que já passou. Quando algo lembra o trauma (um cheiro, um tom de voz, uma situação), o cérebro reativa as mesmas áreas como se o evento estivesse acontecendo novamente.


É por isso que o trauma “vive no corpo”: porque as memórias emocionais são reencenadas fisiologicamente.


4. O papel da reconsolidação de memória


As neurociências descobriram que, cada vez que uma lembrança é reativada, ela volta a um estado maleável — podendo ser modificada antes de ser armazenada novamente. Esse processo se chama reconsolidação.


Terapias como EMDR, TCC, mindfulness e psicoterapia baseada em compaixão utilizam esse princípio: ao relembrar um trauma em ambiente seguro, o cérebro tem a chance de reescrever o significado da memória, reduzindo sua carga emocional.


O trauma não é apagado — ele é reorganizado e integrado ao sistema de memória normal.

5. Memória implícita e memória explícita


A neurociência diferencia dois tipos de memória:

Tipo de memória

Local principal

Características

Explícita (consciente)

Hipocampo e córtex

São lembranças que podemos narrar: “eu me lembro de...”

Implícita (inconsciente)

Amígdala, cerebelo e corpo

São reações automáticas, sensações ou reflexos emocionais — por exemplo, medo sem saber o porquê


No trauma, a memória implícita predomina: o corpo reage antes da consciência compreender. Por isso, alguém pode sentir pânico, raiva ou vergonha sem lembrar do motivo — é o corpo recordando o que a mente reprimiu.


6. Neuroplasticidade: o cérebro pode “regravar” a história


A boa notícia é que o cérebro é plástico — ele pode mudar suas conexões e formar novas redes sinápticas.Quando uma experiência é revisitada com segurança emocional, o hipocampo é reativado, a amígdala se acalma e a lembrança ganha nova integração.


Com o tempo, a memória traumática deixa de acionar o corpo, e o sistema nervoso retoma o equilíbrio entre emoção e razão.

Curar é permitir que o cérebro saiba que o perigo já passou.

7. Quando o corpo também participa da cura


Terapias que envolvem o corpo (respiração, movimento, toque terapêutico, meditação, EMDR, ioga, somatic experiencing) ajudam a liberar a energia armazenada nas vias sensório-motoras. Isso devolve ao corpo o senso de segurança e reinforma o cérebro de que o presente é seguro.


Em termos neurobiológicos, essas práticas:


  • Ativam o nervo vago (responsável pela calma);

  • Aumentam a coerência cardíaca;

  • Estimulam o córtex pré-frontal a retomar o controle;

  • Reduzem a produção de cortisol.


Conclusão: lembrar é reconstruir


Segundo as neurociências, a memória não é uma gravação, mas uma reconstrução contínua. Cada lembrança é reeditada pelo estado emocional atual. E quando o cérebro aprende a revisitar o passado sem medo, a dor se transforma em aprendizado.


O trauma se armazena no corpo, mas a cura também acontece através dele. Relembrar com segurança é reprogramar — e reprogramar é libertar o corpo e a mente do passado.

Sobre a "Energia" liberada:


Como assim, liberar a energia armazenada?


1. O que é essa “energia”


Quando falamos de energia armazenada no trauma, não se trata de algo místico —mas de energia fisiológica, neuroquímica e muscular, associada ao sistema nervoso autônomo (SNA).


Durante uma situação de ameaça, o corpo ativa o chamado modo de sobrevivência:


  • As glândulas adrenais liberam adrenalina e noradrenalina;

  • O coração acelera, a pressão sobe, a respiração fica curta;

  • Os músculos se enrijecem, preparando-se para lutar, fugir ou se defender;

  • O sangue é desviado do sistema digestivo e da pele para os músculos.


Tudo isso é energia biológica de ação — um impulso natural do corpo para resolver o perigo.


2. O que acontece quando essa energia não é descarregada


Se, durante o trauma, a pessoa não pôde reagir — porque estava presa, imobilizada, anestesiada pelo medo ou chocada —essa energia não é completada.


O corpo mantém a carga de ativação como se o perigo ainda existisse.


Isso pode gerar:


  • tensão muscular crônica,

  • dores sem causa médica,

  • ansiedade persistente,

  • hipervigilância,

  • explosões emocionais,

  • ou sensação de “estar sempre prestes a explodir”.

O cérebro e o corpo ficam presos em um “loop” de alerta, sem retorno ao estado de repouso.

3. “Liberar a energia” = completar a resposta biológica interrompida


A liberação da energia armazenada significa permitir que o corpo finalize a reação que foi bloqueada.


Em terapias somáticas (como EMDR, Somatic Experiencing, ou ioga terapêutica), isso pode se manifestar como:


  • tremores leves e involuntários;

  • respirações profundas ou suspiros espontâneos;

  • choro repentino e libertador;

  • relaxamento muscular progressivo;

  • sensação de calor ou vibração no corpo.


Essas respostas não são emocionais apenas — são fisiológicas. O corpo literalmente descarga a tensão acumulada nos músculos, nervos e circuitos neurovegetativos.


4. O que acontece no cérebro durante a liberação


Quando o corpo completa essa resposta:


  1. A amígdala (centro do medo) reduz a ativação;

  2. O tronco cerebral desativa os reflexos de defesa;

  3. O córtex pré-frontal retoma o controle cognitivo e emocional;

  4. O nervo vago é estimulado, ativando o sistema parassimpático — responsável pela calma, digestão e recuperação.


Esse processo é conhecido como regulação vagal.É o mesmo estado de paz e segurança profunda que sentimos após chorar, respirar fundo ou abraçar alguém.


5. O corpo ensina o cérebro a se sentir seguro novamente


Depois da liberação, o corpo registra fisicamente a mensagem:


“O perigo passou. Eu posso relaxar.”

A tensão muscular cede, a frequência cardíaca estabiliza, e a respiração se aprofunda.Esse novo padrão é aprendido pelo sistema nervoso, substituindo o antigo reflexo de ameaça.


Com o tempo, as redes neurais se reorganizam — é a neuroplasticidade emocional em ação.


Resumo

Etapa

O que acontece

Nível corporal

Nível cerebral

Trauma

A energia de defesa é ativada, mas bloqueada

Tensão, congelamento

Amígdala hiperativa

Armazenamento

A energia não se dissipa

Músculos tensos, hipervigilância

Hipocampo e córtex desregulados

Liberação

O corpo completa a resposta

Tremor, respiração, relaxamento

Retorno da regulação pré-frontal

Cura

O corpo reconhece a segurança

Paz fisiológica

Integração emocional

Em resumo:“Liberar energia armazenada” é o processo natural de descarregar a ativação fisiológica não concluída durante o trauma —é o corpo finalizando uma história que o cérebro ainda acreditava estar acontecendo.


O corpo fala, lembra e também se cura — quando lhe é permitido terminar o que um dia precisou interromper.

Que energia é essa?


1. “Energia” = Atividade fisiológica do sistema nervoso


No contexto do trauma, a palavra “energia” se refere à ativação neurofisiológica do corpo diante de uma ameaça.É a soma de três processos:


  1. Atividade elétrica dos neurônios – impulsos que percorrem o sistema nervoso para acionar músculos e órgãos.

  2. Liberação de hormônios e neurotransmissores – como adrenalina, noradrenalina, cortisol e dopamina.

  3. Aumento do tônus muscular e da circulação – o corpo literalmente se carrega de força para agir (correr, lutar, gritar, fugir).


Essa é a energia da vida em modo de defesa — o sistema nervoso autônomo mobiliza todos os recursos para garantir a sobrevivência.


2. O sistema nervoso e o ciclo da resposta ao perigo


Quando o cérebro percebe ameaça, ele ativa o eixo hipotálamo-hipófise-adrenal (HHA). Isso dispara uma cascata bioquímica:


  1. Adrenalina e noradrenalina são liberadas — aumentam batimentos cardíacos, respiração e tensão muscular.

  2. Cortisol mantém o corpo em estado de prontidão.

  3. O sistema nervoso simpático assume o comando, preparando o corpo para agir.


Essa é a energia biológica de defesa — energia de ação. Ela só deve permanecer ativa enquanto o perigo existir.


3. Quando o perigo passa, mas o corpo não “desliga”


Se o trauma é muito intenso (acidente, abuso, violência, perda súbita), o sistema de defesa não consegue completar o ciclo.A pessoa não luta, não foge, apenas congela (resposta de imobilização).


Nessa hora:


  • O corpo ainda está cheio de adrenalina e tensão muscular;

  • Mas o cérebro bloqueia a ação — como se travasse os comandos motores;

  • O sistema nervoso fica preso entre a ativação e a paralisia.

Essa carga fisiológica não usada é o que chamamos de “energia armazenada” — uma ativação corporal não resolvida.

4. Onde essa energia fica “guardada”


Não há um “depósito físico”, mas sim padrões neuromusculares e autonômicos mantidos ao longo do tempo. Por exemplo:


  • Músculos cronicamente contraídos, como ombros, mandíbula ou abdômen;

  • Respiração curta, sinal de que o corpo ainda espera perigo;

  • Hiperatividade do sistema simpático, que mantém batimentos acelerados, suor frio, sobressaltos;

  • Alterações no eixo HHA, que sustentam altos níveis de cortisol.


Essas reações são automáticas e persistem mesmo quando a mente racional sabe que está segura.


5. A liberação dessa energia


Quando a pessoa passa por um processo terapêutico de segurança (como EMDR, terapia somática, mindfulness ou ioga terapêutica), o sistema nervoso retoma o movimento natural de descarga dessa ativação.


Essa liberação pode ocorrer por:


  • Tremores finos e involuntários (descarga muscular);

  • Respiração profunda espontânea;

  • Choro com sensação de alívio;

  • Relaxamento ou bocejos;

  • Sensação de calor ou formigamento.


Tudo isso são respostas vagais — sinais de que o sistema parassimpático retomou o controle e o corpo está saindo do modo de ameaça.


Em termos neurobiológicos, é a energia elétrica, química e muscular do sistema de defesa sendo finalmente dissipada.

6. Em resumo

Nível

O que é a “energia”

Como fica presa

Como se libera

Elétrico

Atividade neuronal aumentada

Circuitos de alerta hiperativos (amígdala, tronco cerebral)

Regulação pré-frontal e vagal

Químico

Adrenalina, cortisol, noradrenalina

Eixo do estresse cronicamente ativado

Respiração, relaxamento, segurança emocional

Muscular

Tensão e prontidão de ação

Congelamento físico

Tremores, choro, movimento, alongamento

7. A visão integrativa


A chamada “energia armazenada” é, portanto, energia biológica não utilizada — a carga de sobrevivência que o corpo reteve. Quando a pessoa vivencia segurança e permissão para sentir, o corpo naturalmente conclui o que não pôde antes.

A cura acontece quando o corpo completa a resposta interrompida, e o cérebro finalmente entende: “o perigo passou”.



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